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abr
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Em fase de crescimento

Matéria publicada no jornal A Tarde no Caderno 2, no dia 03 de Abril de 2010. Matéria na capa e nas páginas 4 e 5.

 

Em fase de crescimento

 

Infanto juvenil Incerteza e descaminhos marcam a literatura feita para crianças e adolescentes, 200 anos depois de Hans Christian Andersen inaugurar o gênero.

 

Emanuella Sombra

A infância pobre deu ao escritor dinamarquês Hans Christian Andersen a oportunidade de falar sobre os contrastes da sociedade em que vivia. Sua primeira obra infantil, lançada entre os anos de 1835 e 1842, foram seis volumes de contos para crianças, público que ele acolheu até 1872. Foram 156 histórias, confrontos entre poderosos e desprotegidos, fortes e fracos, ricos e pobres. Algumas se tornaram célebres, como “Soldadinho de Chumbo”, “A Pequena Sereia” e “Os Sapatinhos Vermelhos”.

“A partir de Andersen se criou um novo espaço de produção, escrever para criança, ter um mercado específico para este público, afirma Regina Dalcastagré, especialista em narrativa brasileira contemporânea e professora da Universidade de Brasília (UnB). Passados mais de 200 anos de seu nascimento, falar em literatura infanto-juvenil no Brasil é tratar de um público leitor expressivo e de um mercado que, embora em crescimento, ainda é restrito.

Mesmo correspondendo à faixa etária que mais lê, crianças e adolescentes têm acesso a poucos títulos adequados a sua idade. Seja a contos de fadas reeditados, clássicos adaptados para uma linguagem específica ou romances contemporâneos. A qualidade do que é lido oscila, e os personagens representadas não respeitam a diversidade dos leitores. “Por outro lado, as paródias dos filmes e até de outros livros vêm contribuindo para que as crianças conheçam os clássicos, e isso é positivo”.

 

 

Literatura

 

Mercado Quantidade e qualidade ainda são problemas do gênero infanto-juvenil.

 

Poucos livros para enorme público consumidor

 

Emanuella Sombra

 

Muito antes de as brasileiras Lygia Bojuga e Ana Maria Machado ganharem o prêmio Hans Christian Andersen de literatura, considerado o Nobel na categoria infanto-juvenil, nascia o escritor homenageado. Mais precisamente, no dia 2 de abril de 1805. considerado por muitos o precursor de uma linguagem direcionada para crianças e adolescentes, o autor de “O Patinho Feio” e “A roupa nova do imperador” inaugurou um gênero. Mais que isso, uma data.

Por causa de Christian Andersen, 2 de abril tornou-se o Dia Internacional do Livro Infanto-Juvenil. Coincidência ou não, é na primeira fase da vida que o leitor brasileiro mais se dedica às páginas de ficção. Última pesquisa divulgada pelo Instituto Pró-Livro, “Retratos de leitura no Brasil”, revela que 50% dos considerados leitores – entrevistados que disseram ter lido pelo menos uma obra nos últimos três meses – estão em idade escolar.

Mais que isso: leram títulos indicados pelo professor e tem em Monteiro Lobato o escritor mais admirado, à frente de nomes como Graciliano Ramos, Luís Fernando Veríssimo e Clarisse Lispector. O resultado da pesquisa supõe um mercado editorial que atende a este público, tanto em variedade como em qualidade dos lançamentos. Mas os números dizem o contrário. Nas prateleiras das livrarias e lojas virtuais, livros para crianças e adolescentes são uma minoria.

 

De um total de 51 mil títulos lançados no País, apenas 6 mil eram destinadas ao público infanto-juvenil

 

Poucos títulos

 

Outra pesquisa, encomendada pela Câmara Brasileira do Livro à Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas (Fipe), reserva à literatura infanto-juvenil uma fatia modesta no universo de títulos lançados no mercado. De acordo com “Produção e venda no setor editorial brasileiro”, publicada em 2009, apenas 12,5 da distribuição de obras do ano anterior correspondiam às literaturas infantil ou juvenil. Significa dizer que, de um total de 51 mil títulos, apenas 6 mil eram infanto-juvenis. “Nos últimos dez anos o crescimento do mercado editorial infanto-juvenil é inegável. O governo começou a comprar literatura assim como já vinha fazendo com os didáticos”, contraria Ceciliany Alves, editora de literatura e projetos especiais da FTD. De fato, ela tem razão. Mesmo pequeno, o percentual de publicações do gênero cresceu 23% entre os anos de 2007 e 2008. somente a FTD entra com aproximadamente 50 títulos lançados por ano, 70% deles escritos por autores nacionais.

 

Leitora de “novidades” como “Harry Potter” e de clássicos como Andersen, Tatiana Belinky defende a escolha pela qualidade

 

Segundo a editora, paralelo aos best sellers, clássicos continuam tendo boa aceitação. “Se as crianças ficam numa fila para comprar “Harry Potter” (da escritora J. K. Rowling), isso é fruto de um mercado editorial, de um processo de formação que se desenvolve na escola”. O selo “Grandes Clássicos para jovens leitores”, lançado pela FTD este ano, reflete sua opinião. “Alice no País das Maravilhas”, de Lewis Carroll, e “O Mágico de Oz”, de L. Frank Baum, são dois dos lançamentos.

 

Sem diversidade

 

Diante de um público de leitores em formação expressivo, resta a pergunta: o que eles estão lendo? Resultado de uma tese de mestrado da Universidade de Brasileira (UnB), um estudo avaliou que tipo de romances infanto-juvenis são escolhidos pelo governo federal para habitar as bibliotecas das escolas públicas.

O resultado coincidiu em suspeitas anteriores. Apesar de bons títulos selecionados, os livros não respeitam a diversidade sociocultural do País.

Especialista em narrativa brasileira contemporânea e professora da UnB, Regina Dalcastagné considera que, mesmo nos clássicos da literatura nacional, passagens com afirmações preconceituosas e relações do gênero “complicados” põe em xeque a utilidade pedagógica das narrativas. “Em Monteiro Lobato, por exemplo, a Tia Anastácia é apresentada como ‘negra de estimação’. A Emília faz uma apresentação dela em que a coloca como uma negra de alma branca”.

 

 

Racismo

 

Para a pesquisadora, ícones da literatura mundial também reproduzem visões de mundo preconceituosas. “Alguns livros legitimam comportamentos que não são positivos para ninguém, e a criança pode não perceber isso. Hoje mesmo eu estava lendo “Timtim” (série de quadrinhos do belga Georges Prosper Remi) com meu filho e há um episódio em que o protagonista vai ao Congo. Lá ele é tido como Deus, enquanto os nativos são burros, abobalhados. É muito racista”.

Leitora de “novidades” como o próprio “Harry Potter” e amante de clássicos como Andersen, aos 91 anos, a escritora Tatiana Belinky defende a escolha pela qualidade, independentemente da pedagogia utilizada. “Há muita coisa boa no mercado e há muita coisa medíocre. Gosto daqueles que têm senso de humor, ética, emoção, que estimulam não só a leitura, mas o pensamento”. Nascida na Rússia, veio para o Brasil aos dez anos, onde escreveu os clássicos “Coral dos Bichos” e “Limeriques”.

Aqui, passou a admirar escritores como José de Alencar e Machado de Assis, mas critica o emprego destes na idade escolar. Também aqueles que reduzem o vocabulário e simplificam as idéias ao falar com os pequenos. “Quando o livro quer ser muito infanto-juvenil ele se prejudica, nivela por baixo. Ou quando é didático demais, moralista. Literatura e poesia são formas de liberdade, não foram feitas para educar. Dar possibilidade à criança, expor ela aos livros, é a melhor opção.

 

Séculos V ao XV

 

Violência e ensinamentos edificantes

 

A Idade Média é marcada por valores baseados na hierarquia social. A lei do mais forte e a transmissão de ensinamentos edificantes são retratados nos contos de fadas, em que a violência com mulheres e crianças é constante. Coleção de lendas originárias do Oriente Médio e do Sul da Ásia, “As Mil e Umas Noites” é narrada a partir da rainha Sherazade, que, para não ser morta, a cada noite conta uma história maravilhosa ao rei Xariar, que, costumava matar suas noivas após desposá-las.

 

 

Séculos XV e XVI

 

Um pequeno adulto

 

É durante o Renascimento que a produção de valores da nova classe dominante, a burguesia, ganha força. A visão de mundo deixa de ser teocêntrica (a religião como centro) e as narrativas das antigas tradições orais são reescritas e adaptadas com intenções pedagógicas. A criança é concebida como um adulto em miniatura, é afastada do convívio familiar e introduzida nos colégios. Em seus “Ensaios”, Montaigne analisa as instituições, as opiniões e os costumes de época.

 

 

Séculos XVII e XVIII

 

A infância é um valor

 

No fim do século XVII se efetiva uma produção literária com características infanto-juvenis. A infância é valorizada e a criança é vista como um bem precioso. A literatura prepara os jovens para o convívio social e lhes proporciona valores éticos e intelectuais. As “Fábulas de La Fontaine” – carregadas de ironia e ensinamentos morais – contam histórias de animais a partir de uma linguagem simples e atraente. “As aventuras de Robinson Crusoé”, de Daniel Defoe, simboliza a luta do homem contra a natureza: Crusoé é um náufrago que passa 28 anos sozinho até encontrar a personagem Sexta-Feira.

 

 

Século XIX

 

Mais humano

 

A linha fantástico maravilhosa produz narrativas de fundo folclórico e surrealista por meio de livros como “Alice no País das Maravilhas” e “Alice através do espelho”, de Lewis Carroll. Os contos dos Irmãos Grimm” dão um sentido mais humanitário e menos violento às histórias da época medieval, transmitindo sempre uma “moral da história”. Os princípios da fraternidade e da generosidade humana são destacados por Hans Christian Andersen, pioneiro no texto adaptado para crianças.

 

 

Século XX

 

Desafiando convenções

 

A produção infanto-juvenil reencontra as fábulas em clássicos como “O Pequeno Príncipe”, de Antoine de Saint- Exupéry, e desafia o estilo de vida burguês, com “O Apanhador no Campo de Centeio”, de J. D. Salinger. O livro chegou a ser acusado de incitar o lado diabólico das pessoas depois que o assassino de John Lennon confessou ter se inspirado na obra para cometer o crime. No Brasil, Monteiro Lobato rompe com as convenções estereotipadas dos livros voltados às crianças.

 

 

Século XXI

 

Em vários volumes

 

Entram em cena os best sellers narrados em vários volumes, como a saga do bruxo “Harry Potter”, da escritora inglesa J. K. Rowling, que preserva os valores de fábulas clássicas, como a coragem e a integridade. Todos os sete volumes são adaptados para o cinema. A romancista Stephenie Meyer, com títulos voltados ao público juvenil, investe num enredo que mistura vampiros, inseguranças da adolescência e amores impossíveis. O primeiro volume, “Crepúsculo”, é a gênese da saga “Twilight”, febre entre adolescentes de todo Ocidente e também adaptada para o cinema.

 

 

Entrevista

 

Leda Cláudia da Silva

 

Personagens são homens broncos de classe média

 

Emanuella Sombra

 

Mestre em literatura infanto-juvenil pela Universidade de Brasília (UnB) e especialista em Literatura Brasileira, Leda Cláudia da Silva concluiu em 2008 um estudo ousado: a partir de 53 títulos, descobrir quem são as personagens dos livros infantis e juvenis escritos por autores nacionais. Mais especificamente, quem são os mocinhos, heróis e bandidos que habitam as obras selecionadas pelo Governo Federal para ocupar as prateleiras das escolas públicas. O resultado foram várias radiografias semelhantes, que resultam num único estereótipo.

 

O que é a sua pesquisa?

 

Inicialmente eu peguei a lista de 300 obras do Programa Nacional Biblioteca da Escola (PNBE), de 2005, e fiz um recorte. Estudei apenas as narrativas literárias brasileiras, especificamente contos produzidos a partir dos anos 70. cheguei a 53 livros e 149 personagens. Meu objetivo era analisar estes personagens.

 

E o que a senhora concluiu?

 

Observei algo que a gente tinha noção mais ainda não havia comprovado em pesquisa: a maioria dos personagens são adultos, homens brancos e de classe média. Coincidentemente, grande parte das obras foi publicada em 2005 (a lista do PNBE foi composta naquele ano para os livros serem adquiridos e distribuídos em 2006). Havia coisas de extrema qualidade no texto e na forma, e coisas muito ruins. De maneira geral, foi uma seleção boa em termos de enredo e tratamento gráfico, mas o personagem tinha um perfil que continua sendo reproduzido, inclusive com relação ao gênero. Os femininos estão num espaço privado, dentro do círculo familiar, das relações amorosas, enquanto os masculinos se envolvem em histórias de aventura e de conquista.

 

A senhora pesquisou o ano de 2005. de lá para cá, é possível dizer se houve mudanças?

 

Eu não saberia dizer. Como todo ano existe uma nova seleção, eles procuram o que há de novo. Há clássicos mas há uma grande quantidade de obras atuais.

 

A partir da sua pesquisa é possível dizer que não há diversidade de personagens. Eles obedecem um padrão social e racial.

 

Proporcionalmente não há, mas é possível encontrar títulos bons como “Amanhecer Esmeralda”, de Ferréz, em que o personagem principal é uma menina negra e pobre. Mas ainda é muito pouco.

 

Em termos de qualidade, o que mais lhe chamou atenção?

 

Monteiro Lobato e Roger Melo (vencedor do prêmio suíço Espace – enfants e do brasileiro Jabuti, em 2002 e indicado ao dinamarquês Hans Christian Andersen deste ano) são os que mais aparecem. O governo está dando uma peneirada muito boa, esta questão das personagens é específica e não se resolve de uma hora para outra. Em se tratando de temática, um livro que achei interessante foi o de Sandra Branco, “Porque meninos tem pés grandes e meninas tem pés pequenos”, que desconstroi estereótipos.

 

Percy Jackson volta sério e divertido

Logo que entreou no cinema, o primeiro capítulo da série “Percy Jackson e os Olimpianos” despertou comparações com “Harry Potter”. O lançamento de “A Batalha do Labirinto”, quarto livro da série, afasta ainda mais as duas obras. Rick Riordan, criador do garoto que descobre que a mitologia grega é real e que seu pai é um deles, é mais direto, sem parecer mecânico. Escreve com agilidade e economia. Sua trama tem mistérios e temas sérios, como em Harry, mas o tratamento é menos carregado. O sarcasmo de Percy e a coleção de seres fantásticos divertem, sem nunca cansar.

 

Suzy Lee lança novo livro sem palavras

É difícil encontrar palavras para falar dos livros de Suzy Lee. Até porque ela não costuma usá-las. Em “Espelho”, que acaba de ser lançado pela Cosac Naify, uma garota descobre as possibilidades lúdicas do seu próprio reflexo. Em páginas espelhadas, a garota dana e faz poses, em um processo sutil de descoberta de si mesma. A descoberta também é um dos temas de sua obra-prima, “Onda”, lançado pela mesma editora, que mostra uma garota brincando à beira-mar. Nos dois livros, Lee extrai de situações cotidianas força e beleza, que envolvem leitor e personagem.

 

O vasto catálogo de Cosac Naify

“Onde vivem os monstros”, de Maurice Sendak, e “Alice no País das Maravilhas”, de Lewis Carroll, são dois dos mais de 200 títulos infanto-juvenis da editora, entre autores nacionais e estrangeiros.

7,2% é o percentual da participação de títulos do gênero infanto-juvenil no número de exemplares distribuídos no mercado literário brasileiro de 2008.

6.409 é o número de títulos do gênero lançados em 2008, representando crescimento de 23,3% no segmento editorial para jovens e adolescentes. Em 2007, foram publicados 5.202 títulos.

 

Brigando feito gente grande

No ranking da Veja dos mais vendidos na categoria ficção (atualizado no site da revista no dia 2 de abril), infanto-juvenis competem em pé de igualdade com “adultos”. Rick Riordan aparece em segundo lugar com “O Ladrão de Raios, em quarto, com “O Mar de Monstros”, e em sexto, com “A Batalha do Labirinto”. A autora da saga “Crepúsculo”, Stephenie Meyer aparece em quinto, com “Amanhecer”, e em décimo, com “Eclipse”. Duas edições de “Alice no País das Maravilhas”, de Lewis Carroll, da Zahar e da Cosac Naify, aparecem em nona e décima-nona colocações.

 

14
nov
09

‘As pessoas precisam de fantasia’, diz Sendak

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Matéria publicada no Caderno Ilustrada do jornal Folha de São Paulo, no dia 7 de novembro de 2009, na página E6.

‘As pessoas precisam de fantasia’, diz Sendak

Premiada obra infanto-juvenil norte-americana chega ao Brasil após 46 anos.

Trama foi adaptada para o cinema por Spike Jonze e estreou no mês passado nos EUA; longa deve chegar ao Brasil em janeiro de 2010.

Lucrecia Zappi

Colaboração para a Folha em Nova York

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Os monstros de Maurice Sendak se parecem com os horrores da Segunda Guerra Mundial ou com a história do garoto Lindbergh, de Nova Jersey, seqüestrado do berço e encontrado morto em 1932, fatos que marcaram a infância do escritor no Brooklyn, em Nova York.

“Hoje em dia é o 11 de Setembro e praticamente qualquer história do jornal diário”, diz o autor e ilustrador sobre a inspiração para “Onde Vivem os Monstros, que ganha tradução no Brasil, pela Cosac Naify, 46 anos depois da primeira edição.

“A não ficção sempre vai ser importante, mas não supera uma boa história fictícia. As pessoas querem e precisam de fantasia”, diz Sendak, em entrevista à Folha.

Se, por um lado, o filho de imigrantes judeu poloneses une passado e presente para mostrar que o tema dos monstros não é privilégio seu, mas vem das ansiedades do inconsciente coletivo, por outro lado, se pergunta com inocência: “Mas não são todas mas crianças que têm medo deles?”

O faz de conta de Sendak resiste, em todo o caso, ao moralismo da literatura norte-americana. O autor reconhece que a censura sempre foi um problema no país. “Meu livro ‘In the Night Kitchen’ foi banido por causa do pênis do Mickey: os bibliotecários desenharam uma fralda por cima!” conta Sendak sobre a história, com referências ao holocausto, do menino que quase vai pro forno, rodeado por cozinheiros com bigodinhos hitlerianos.

O livro de 1970 está na lista dos “cem mais controversos de 1990 a 2000” da Associação da Biblioteca Americana. Em outra lista da mesma associação, a trilogia “Fronteiras do Universo”, do inglês Philip Pullman, aparece entre os primeiros dez livros de 2008 que diversas organizações nos EUA tentam banir das estantes das escolas e bibliotecas, seja por linguagem ofensiva, seja por conteúdo sexual ou homossexual. Segundo a Liga Católica, a trilogia passa uma mensagem “anticristã”.

“É uma vergonha que [a censura] continue a existir”, diz Sendak. “Mas, em alguns casos, os livros ganham a atenção que eles normalmente não teriam porque todo o mundo fica dizendo: ‘É terrível, não leia, você vai ficar louco!’ Então, quem não gostaria de lê-los?

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Prêmios

Sendak pode ser controverso, mas, aos 81 anos, acumula grandes prêmios da literatura, como o National Book Award e o Hans Christian Andersen, considerado no Nobel da literatura infantil. foi “Onde Vivem os Monstros” que o consagrou de vez, em 1963.

“Escolhi o títulos ‘Where the Wild Horses Are’ (“Onde Vivem os Cavalos Selvagens”, em tradução livre), antes de perceber que não sabia desenhar cavalos. Então, me decidi por ‘coisas’ e as baseei em minhas tias e tios, o que não é muito simpático, mas é a verdade”, diz o autor sobre o título “Onde Vivem os Monstros”, (“Where the Wild Things Are”, em inglês).

“O que mudou desde então foi tudo. E nada. Continuo sem saber como o livro tem atraído as crianças. Sinto-me feliz e grato, mas não entendo”. E no que deu certo ele não mexe. Nesse sentindo, acompanhou a produção da edição brasileira de casa, em Connecticut, opinando até na escolha do papel.

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Autor de diversos projetos visuais, como figurinos e cenários para ópera e teatro, Sendak participou da adaptação do livro para o cinema. O filme estreou nos EUA no mês passado e chega ao Brasil em janeiro.

“Sinceramente, não mudaria nada”, diz sobre o longa nada óbvio de Spike Jonze, que segue de perto os personagens com a câmera, explorando suas fobias e desconfianças, e tem trilha de Karen O, vocalista dos Yeah Yeah Yeahs.

“Mas, agora o filme saiu, estou feliz em voltar para os livros. Estou trabalhando em um chamado ‘Bumble-Hardy’! Depois, quero fazer outro para meu irmão”.

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14
nov
09

Atrás das pegadas dos monstros

29/10/2009 – 15:01 – Atualizado em 30/10/2009 – 19:55

Atrás das pegadas dos monstros

Livia Deodato

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REI DOS MONSTROS
O jovem ator Max Records interpreta Max no filme baseado no livro de Maurice Sendak

Com um livro de apenas 338 palavras, o americano Maurice Sendak revolucionou a literatura infantil. Quando tinha 35 anos, em 1963, ele foi capaz de se colocar dentro da cabeça de uma criança de 9 e expor fielmente seu pensamento, suas vontades e sua natural desobediência. A obra Onde vivem os monstros, muito bem ilustrada pelo próprio Sendak, começa com as estripulias do pequeno Max, segue com a malcriação para sua mãe e aparentemente termina no castigo no quarto, para onde é mandado sem jantar. Lá dentro, ele cria seu próprio mundo, povoado por monstros de dentes e garras afiadas. Em vez de ficar com medo, Max os enfrenta. E se diverte com eles, até cansar e se sentir sozinho.

A mensagem da obra escrita há 46 anos já conquistou pelo menos duas gerações. Elas podem ser representadas pelo diretor Spike Jonze, ao lado do roteirista Dave Eggers, e o ator Max Records. Fãs do livro, Jonze e Eggers marcaram um encontro com Sendak em 2003 para discutir a possibilidade de filmar a obra infantil americana de maior sucesso.

Eles não foram os primeiros em demonstrar interesse. Outros diretores já haviam se aproximado do escritor, hoje com 81 anos. Houve até o esboço de uma animação baseada no livro realizado pela Disney, em 1983 (disponível no YouTube), que foi abandonado logo depois e por isso foram perdidos os direitos para adaptação. A parafernália hollywoodiana, pronta para diluir o significado simples e verdadeiro da história, e frases como “Senhor Sendak, deixe-me explicar como se faz um filme para crianças” fizeram Sendak negar todos os pedidos. Até aparecer Spike Jonze, o diretor que “não cresceu” e, por isso, compreendia a arruaça e a doçura de ser Max.

O processo de adaptação, de cerca de um ano, teve como diretriz “não olhar Max de cima para baixo, e sim conseguir entrar dentro dele”. O desafio de transformar um livro composto de dez sentenças em um longa-metragem de uma hora e meia – e à altura da exigência de Sendak – não era fácil. Mas o esforço valeu a pena. Muitas ideias, muitos rascunhos e voltas de skate ao redor da casa de Spike Jonze, em São Francisco, renderam um dos mais belos filmes do ano, que custou US$ 100 milhões e só arrecadou US$ 55 milhões desde sua estreia, no dia 16, nos Estados Unidos. Onde vivem os monstros deverá ser lançado no Brasil em 1o de janeiro de 2010.

Jonze e Eggers expandiram uma simples ordem do pequeno rei Max na terra dos monstros, como “quietos!” (confira o quadro abaixo) . O único ponto em discordância entre os cineastas e Sendak foi a “viagem” de Max para a ilha onde moram os monstros: no livro, é o próprio quarto de Max que se enche de mato e cipós; no filme, ele sai correndo de casa e as ruas se transformam na selva. Jonze insistiu e Sendak confiou: “Bem, é seu filme, você tem de fazer o que acredita”, disse.

Agora, o longa-metragem volta à forma original. Desta vez, romanceado pelo roteirista do filme, Dave Eggers. Os monstros (Companhia das Letras, 264 páginas, R$ 30) é baseado no livro de Sendak e no filme, e traz coadjuvantes engraçados, como a mãe do melhor amigo de Max, Clay Mahoney (inexistentes no original e no filme). Com ele, chega também às livrarias a versão em português de Onde vivem os monstros (CosacNaify, 40 páginas, R$ 49). A tradução de Heloisa Jahn é fiel, mas pode soar agressiva quando a mãe chama Max de “monstro” (no original, “wild thing”). “O tom do texto e os desenhos fazem com que tudo o que acontece no livro seja carinhoso, divertido e poético. Sendak é assim”, afirma ela. Prova de que não inventaram nada melhor do que uma história bem contada, mesmo que ela tenha só 338 palavras.

Adaptações do conto ao romance baseado no filme

011º PASSO
O livro original Maurice Sendak, de 81 anos, escreveu Onde vivem os monstros quando tinha 35. Seu mérito foi se colocar na pele de uma criança de 9 anos capaz de enfrentar seu medo, representado pelos monstros.

022º PASSO
O roteiro O diretor Spike Jonze e o roteirista Dave Eggers levaram um ano para transformar as dez sentenças do livro em um filme de uma hora e meia de duração. O resultado é um belo longa, que deverá estrear em janeiro no Brasil.

033º PASSO
O storyboard A aventura de Max foi (re)desenhada pela equipe de Jonze e Eggers. Lá está o passo a passo da aventura que se estendeu para o filme.

044º PASSO
O novo livro O roteirista Dave Eggers criou uma obra com novos personagens baseada no livro original de Sendak e no filme de Jonze

http://revistaepoca.globo.com/Revista/Epoca/0,,EMI102027-15220,00-ATRAS+DAS+PEGADAS+DOS+MONSTROS.html

14
nov
09

Spike Jonze desperta emoções em ‘Where the wild things are’

16/10/09 – 07h19 – Atualizado em 16/10/09 – 08h23

Spike Jonze desperta emoções em ‘Where the wild things are’

Filme é baseado no livro ‘Onde vivem os monstros’, de Maurice Sendak.
Max Records, de 12 anos, é o protagonista; trilha é de Karen O.

Da EFE

Spike Jonze, um dos cineastas mais inovadores da atualidade de Hollywood, retorna à direção sete anos depois do último trabalho com “Where the wild things are”, uma fantasia sobre a infância que aflora emoções.

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Cena de ”Where the wild things are”, filme de Spinke Jonze que estreia nos Estados Unidos (Foto: Divulgação)

O filme, que estreia nesta sexta-feira (16) nos Estados Unidos, é baseado no livro “Onde vivem os monstros”, um clássico da literatura infantil criado por Maurice Sendak em 1963 sobre Max, um menino perspicaz que se sente incompreendido e que, após uma discussão com sua mãe, foge em busca de um lugar mágico criado em sua imaginação.

“Ali é onde vivem os monstros referidos no título, que na realidade são umas criaturas que representam as emoções, selvagens e imprevisíveis, que todos temos em nosso interior”, segundo explicou Jonze em um encontro com a imprensa em Los Angeles, na Califórnia.

As criaturas buscam um líder que os guie e proclamam Max seu rei, que promete criar um ambiente para que todos sejam felizes, embora em breve descubra que seu trabalho não será fácil e que as relações com os demais habitantes tornam-se mais complicadas do que imaginava.

“Maurice (Sendak) me disse que não me preocupasse porque cada um pode opinar sobre a adaptação, me encorajou para que fizesse o filme que eu queria, minha visão sobre a história, e para isso só me pediu que fosse honesto com o livro”, lembrou Jonze, de 40 anos, co-roteirista do filme junto com Dave Eggers.

O universo literário de “Onde vivem os monstros” encerra ao fim de 50 páginas, mas a imaginação que despertam os desenhos de Sendak são as grandes vertentes do livro, que integra a lista dos mais vendidos de todos os tempos.

“Não quis acrescentar nada que não estivesse no livro, mas tentei descobrir quem é Max e quem são as criaturas selvagens, para mim são as emoções e isso cedeu espaço para que começasse a escrever os personagens”, manifestou Jonze, autor de títulos como “Being John Malkovich” (Quero ser John Malkovich, 1999) e “Adaptation” (Adaptação, 2002), seu longa-metragem anterior.

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Divulgação

Filme estreia nesta sexta-feira nos cinemas dos Estados Unidos (Foto: Divulgação)

Elenco

Na versão original do filme é possível escutar as vozes de James Gandolfini, Catherine O’Hara, Paul Dano e Forest Whitaker, que dublaram as criaturas, feitas artesanalmente -“ficou rude, real”, apontou Jonze – com a incorporação de efeitos digitais para dar expressão aos rostos.

O estúdio Warner Bros que esperava um produto final mais conciso acabou atrasando a estreia do filme em mais de um ano para polir os detalhes da produção, cujo orçamento foi de US$ 80 milhões.

“No princípio, o estúdio se surpreendeu com o material recebido. Eles esperavam algo mais mágico e fantasioso, mas este não é um conto tradicional”, afirmou o cineasta, quem considera ter realizado um filme sobre a infância contada de forma realista.

Segundo Jonze não foi preciso mudar nada – “fiz o que eu queria” – e Warner Bros deu o sinal verde ao trabalho do diretor de célebres vídeos musicais protagonizados por R.E.M. e Chemical Brothers.

Uma das decisões mais complicadas foi a escolha do protagonista, papel dado a Max Records, de 12 anos. “Ele é o grande trunfo do filme”, disse Jonze, quem se mostrou orgulhoso também com a trilha sonora, obra de Karen O, líder da banda Yeah Yeah Yeahs.

“Ela é uma de minhas artistas favoritas”, admitiu o diretor americano. “É como uma menina que luta pela liberdade e expressa seus sentimentos e considero que sua música é o coração do filme”, acrescentou Jonze, um apaixonado da música pop desde criança.

“Queria uma música que lembrasse a de Brian Wilson, John Lennon, Paul McCartney e David Bowie”, comentou o cineasta. “Quando criança conectava intuitivamente com meus amigos e sentia que podia identificar-me 100% com suas canções”, acrescentou.

Catherine Keener, a única atriz protagonista de carne e osso no filme, certificou o duro trabalho que teve que enfrentar Jonze para adaptar a obra literária e defendeu suas decisões.

“Tem muitíssimas ideias e uma criatividade inesgotável, portanto leva tempo articular todo isso”, elogiou a intérprete. “O que faz com que este filme vá muito além do que o estúdio esperava”, concluiu.

http://g1.globo.com/Noticias/PopArte/0,,MUL1343286-7084,00-SPIKE+JONZE+DESPERTA+EMOCOES+EM+WHERE+THE+WILD+THINGS+ARE.html

14
nov
09

Filme ‘Onde vivem os monstros’ ganha bênção do autor do livro

14/10/09 – 16h56 – Atualizado em 14/10/09 – 17h22

Filme ‘Onde vivem os monstros’ ganha bênção do autor do livro

Dirigido por Spike Jonze, longa estreia nos EUA na próxima sexta (16).
James Gandolfini e Forest Whitaker emprestam vozes a personagens.

Jil Sergeant Da Reuters

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Cena de “Onde vivem os monstros”, dirigido por Spike Jonze (Foto: Divulgação)

Transpor para o cinema de Hollywood um livro que é um clássico da literatura infantil requer coragem. Quando o livro em questão é o sombrio mas amado “Onde vivem os monstros”, de Maurice Sendak, e quando o original ilustrado contém apenas nove sentenças escritas, ajuda se você conta com a bênção do autor.

O diretor Spike Jonze tinha as duas coisas quando começou a levar para a tela grande o livro premiado de 1963, em versão que é ao mesmo tempo diferente do original e uma homenagem a este, feita para agradar não apenas às crianças mas também aos adultos.

A versão de Jonze de “Onde vivem os monstros” (“Where the wild things are”) — que levou cinco anos para ser feita e funde ação ao vivo, fantoches e animação computadorizada — chega aos cinemas norte-americanos na próxima sexta-feira (16) em meio a resenhas altamente positivas, mas também muitas reservas.

O mundo visto por uma criança

O livro é uma história com pouquíssimo texto, mas muitas ilustrações, sobre um menino travesso que veste fantasia de lobo e sai em busca de aventuras, mas, ao ser mandado de volta a seu quarto, acaba recorrendo à sua imaginação. Desde os anos 1970, é um dos dez livros infantis mais vendidos nos Estados Unidos.

Mas Jonze, responsável pelo excêntrico “Quero ser John Malkovich”, de 1999, disse que não pretendeu fazer um filme tradicional para crianças.

“Eu me propus a fazer um filme sobre a infância”, disse Jonze, co-autor do roteiro, juntamente com o romancista Dave Eggers.

“O filme trata de como é ter 8 ou 9 anos de identidade e tentar entender o mundo, as pessoas à sua volta e as emoções, que às vezes são previsíveis ou causam perplexidade”.

“Ele (Sendak) sentiu orgulho do filme”, disse Jonze, que também fez um documentário com o escritor de 81 anos, que será exibido pelo canal a cabo americano HBO.

Dunas em vez de florestas

Na maior diferença em relação ao livro, o solitário mas brincalhão Max (o novato Max Records) foge de casa e veleja até um deserto habitado por monstros peludos e com presas, que procuram o tipo de líder que Max quer ser.

O filme foi rodado perto de Melbourne, na Austrália, e, em vez da floresta verde que cresce magicamente no quarto de Max, no original, tem dunas de areia, praias e bosques devastados por incêndios. Tem um clima de filme de arte, algo raramente visto nos filmes infantis de Hollywood.

Os monstros são dublados por atores, entre eles James Gandolfini (“The Sopranos”) e o premiado com o Oscar Forest Whitaker, e ganham substância física com a ajuda de outros atores usando figurinos criados pela Creature Shop, de Jim Henson.

http://g1.globo.com/Noticias/Cinema/0,,MUL1341124-7086,00-FILME+ONDE+VIVEM+OS+MONSTROS+GANHA+BENCAO+DO+AUTOR+DO+LIVRO.html




Melissa Rocha

Jornalista apaixonada por cachorros e literatura, principalmente o gênero infanto-juvenil. Torcedora (e sofredora) do Palmeiras e Bahia. Fã de Drew Barrymore, Dakota Fanning, Anthony Kiedis e Red Hot Chili Peppers, All Star e Havaianas.

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