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The Basement: Meditations on a Human Sacrifice – Um Crime Americano

Hoje, excepcionalmente, vou falar sobre um livro que eu gostaria muito de ler, mas nunca encontrei para comprar, muito menos para baixar (dói ler no PC viu?). Só me resta dar a grana do livro para alguém quando estiver indo para os Estados Unidos ou Inglaterra, procurar e trazer para que eu possa ter enfim em mãos. Então vou me basear sobre o que li acerca da história e também sobre o filme que se baseia tanto no livro quanto no caso.

“The Basement: Meditations on a Human Sacrifice” de Kate Millett é completamente desconhecido no Brasil e só ficamos sabendo da história por causa do excelente e chocante filme “Um Crime Americano” (2007), dirigido por Tommy O´Haver e com um elenco já também conhecido dos brasileiros: Catherine Keener (“Na Natureza Selvagem”, “Capote”, “Percy Jackson e os Olimpianos – O Ladrão de Raios”) e Ellen Page (“Juno”, “X-Men – O Confronto Final”, “Menina Má.com”).

Se você não tem estômago para muita violência gratuita, brutalidade, ignorância, cinismo e irresponsabilidade, não assista “Um Crime Americano” e nem procure saber sobre a história verídica de Sylvia Likens, pois será demais para você.

Sylvia Marie Likens – a vítima

Baseado em fatos reais, tanto o livro quanto o filme, contam a história da família Likens, um casal de artistas circense que tinha quatro filhos e vivia constantemente mudando de endereços, por conta da profissão. Em uma dessas viagens, eles chegaram a Indianópolis, nos Estados Unidos e conheceram na igreja que freqüentavam uma dona de casa chamada Gertrude Baniszewski que possuía uma penca de filhos e parecia ser uma distinta senhora. Diante de mais uma viagem com o circo, Lester e Betty Likens decidiram deixar as filhas, Sylvia de 16 anos e Jenny de 15 anos, aos cuidados de Gertrude. O que parecia ser uma solução para o problema dos Likens, se transforma em um verdadeiro pesadelo e sessões intermináveis de torturas para a inocente Sylvia.

Logo após a chegada das garotas na casa de Baniszewski, elas perceberam que não seria uma estada fácil. Pobre, depressiva, usuária de drogas, com alta rotatividade de relacionamentos fracassados e seis (ou sete, não me recordo) filhos para sustentar, Baniszewski começou a perseguir e maltratar Sylvia e Jenny, principalmente depois que o primeiro pagamento de vinte dólares semanais, enviado pelo Sr. Likens, atrasou.

E a situação das meninas, principalmente de Sylvia, ficou ainda pior após a garota descobrir que Paula, a filha mais velha de Gertrude, estava grávida de um cara casado. Paula começa a inventar mentiras de Sylvia, denegrindo a imagem da garota e recebeu total apoio da mãe que, sem querer enxergar a verdade, começou a acusar Sylvia de querer destruir o futuro da sua filha.

Gertrude Baniszewski – o monstro

Resultado: Sylvia foi submetida a intermináveis sessões de torturas e outros atos de violência que até hoje me embrulha o estômago. Não consigo não me revoltar imaginando as situações a que essa garota tão doce, tranquila e meiga fora submetida. E como pais, que deveriam ser responsáveis pela segurança e bem-estar de seus filhos, tiveram a coragem de deixar menores de idade aos cuidados de uma pessoa que eles mal conheciam e sequer sabiam da história (se trata dos anos 60, mas não importa, responsabilidade independe de época vivida). E me revolto também pela própria Sylvia não ter se rebelado, mas os tempos eram outros, a garota era muito pacata e submissa, só pensava no bem-estar da irmã e ela nem tinha para onde fugir. Enfim, uma sucessão de fatores que só podiam mesmo terminar em uma desgraça sem precedentes.

O lar de Sylvia passou a ser um porão frio e sem conforto, aprisionada e mal alimentada (com apenas biscoitos). As atividades da menina se resumiam a sonhar com uma fuga e vida melhor. E virou uma cobaia para as loucuras, insanidades, atos de violência sem tamanho dos filhos de Baniszewski e de alguns vizinhos incitados por aquele que deveria protegê-la.

A garota teve o corpo queimado com pontas de cigarro, surras, tapas, murros, chutes na cabeça e o corpo tatuado com xingamentos por um alfinete queimado. Terrível, execrável, revoltante… Dê o nome que quiser, porque eu não consigo encontrar uma palavra para definir o que fizeram com Sylvia.

E o filme mostra essa sucessão de fatos de maneira brilhante, com atuações primorosas de Ellen Page e Catherine Keener. Já o livro traz além da história de Sylvia, os abusos sofridos (muito piores e inumanos mostrados no filme) e também a documentação do julgamento, as possíveis motivações desse crime injustificável e inacreditável que chocou os Estados Unidos.

O que me choca também é o fato da desgraçada da Gertrude Baniszewski ainda ter tido coragem de após ser a grande culpada pela morte de Sylvia, declarar insanidade mental durante o julgamento. Mas foi condenada a prisão perpétua, bem como Paula Baniszewski. No entanto, aquele país que preza a sua justiça, soltou Paula apenas dois anos depois de tudo que a aprendiz de marginal fez com Sylvia. Paula que deu o nome de Gertrude à sua filha que nasceu durante o julgamento, logo após ter sido solta, trocou de nome e continuou vivendo a sua vida. Coitada de Sylvia que perdeu a dela e passou por tudo de pior que um ser humano pode passar. E Gertrude, vinte anos depois de matar a garota, foi solta sob condicional. Mas a filha da mãe morreu de câncer em 1990. Eu me pergunto que justiça é essa? As pessoas torturam física e psicologicamente, incentivam à violência, corrompem menores, cometem homicídio com requintes de crueldade e só dois e vinte anos de cadeia? Até parece que o crime foi cometido no Brasil não é?

Enfim, desabafei e recomendo para quem tenha coragem, assistir ao filme e, se tiver ainda mais sangue frio, ler o livro.

Um vídeo sobre o caso:

Trailer de “Um Crime Americano”:


3 Respostas to “The Basement: Meditations on a Human Sacrifice – Um Crime Americano”


  1. 1 Sandra Oliveira
    agosto 1, 2010 às 11:02 am

    Que história forte hein? é mais ou menos o que agora frequentemente vemos nos noticiários..infelizmente… e onde encontro esse filme? pq eu sequer conhecia e agora quero muito assistir…vou anotar o nome e procurar, embora acho que seja meio difícil achar em qualquer locadora…enfim…vou atrás…

    e bem, pela foto, a mulher tem cara mesmo de ser A LOUCA não é? que horror!

    e que pena não ter o livro por aqui, ou entraria também na minha listinha para comprar!

    beijos 😉

  2. agosto 2, 2010 às 3:21 am

    Olá, Mel Issa Rocha, teu nome já é um poema
    [what a blessing!],

    Sylvia Marie Likens quitou seus débitos cármicos.
    Do contrário não há como entender a perfeição divina.
    Gertrude não é monstro. Budismo diz: “Não há amigos nem inimigos. Todos
    são mestres.”
    Enfim, tudo concorre para a Luz e todos chegaremos juntos ao Pai.
    Bigbeijo,
    Jura.

  3. 3 RENATA BRAGATO DE TOLEDO
    novembro 1, 2011 às 9:52 pm

    olá Melissa.
    Com muito custo consegui encontrar esse filme para assistir.Já tinha ouvido muito sobre a história de Sylvia e siceramente é tudo isso que vc sita acima; é horripilante chorei o filme todo, não há uma cena se quer que não fique de cabelo em pé, sem palavras para falar sobre o sofrimento dessa garota.Gostaria muito de ler o livro pois dev ter muito mais detalhes sobre a vida de SYLVIA.
    SUPER BJOS A TODOS


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Melissa Rocha

Jornalista apaixonada por cachorros e literatura, principalmente o gênero infanto-juvenil. Torcedora (e sofredora) do Palmeiras e Bahia. Fã de Drew Barrymore, Dakota Fanning, Anthony Kiedis e Red Hot Chili Peppers, All Star e Havaianas.

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